O P.e Leopoldino recorda este lamentável e
determinante episódio ocorrido no ano anterior ao nascimento da Beata
Alexandrina:
No ano de 1903, a desordem (na festa do Senhor da Cruz) foi tão prolongada que, ao romper da
aurora, estando o capelão da Confraria a celebrar a missa, na capela, pediu o
mesmo, que era o Rev.do Dr. Baltasar João Furtado (Azenha)[1],
de Gondifelos, ao ex-regedor Joaquim da Costa Oliveira, homem velho e sensato,
para ir ao terreiro acabar com o barulho. Este, porém, em tão má hora o fez que
foi morto com uma paulada na cabeça.
Joaquim da Costa Oliveira era um jornaleiro do Casal e
tinha 63 anos.
O julgamento do seu assassínio fez correr muita tinta
na imprensa poveira.
O Estrela Povoense foi o que mais
espaço lhe dedicou. Da primeira vez, em 15 de Maio de 1904, foi quase uma
página completa, em letra miudinha, sob o título: “Audiências Gerais,
Julgamento importante, o Caso de Balasar”. Regista as conversas trocadas em
duas sessões do julgamento entre o juiz e os advogados, por um lado, e as
testemunhas, por outro. Na edição de 22, faz-se o mesmo para a sessão de
conclusão. É quase meia página com o título de “Ainda o Caso de Balasar”.
O julgamento pareceu uma completa farsa: as
testemunhas, que antes acusavam o réu - Florentino Ferreira de Macedo Faria
Gajo, de Gueral, de 22 anos -, em tribunal, ilibaram-no. O juiz bem tentou
mostrar-lhes a incongruência em que se envolviam, mas elas, que aparentemente
tinham sido bem preparadas, mantiveram-se firmes. E o réu foi absolvido.
“E assim terminou essa tragédia em que se vê morrer
assassinado um homem em pleno dia, cercado de centenas de pessoas, sem que
alguém pudesse descobrir o assassino!”, lamenta o jornal. E mais adiante:
“Infelizmente parece que uma freguesia inteira era cúmplice nessa morte, tais
foram os meios que se empregaram para escurecer a verdade”.
O Liberal,
no dia 15 de Maio, também dedicou mais de meia página ao caso, intitulando-a
“Julgamento importante (o crime de Balasar)”, mostrando-se mais favorável ao
réu. No dia 29, insurgiu-se contra o Estrela Povoense: se levantava
suspeitas sobre o comportamento das testemunhas, devia prová-las. O Estrela lembrou
então o que se tinha passado noutros julgamentos em que o réu era pobre e foi
condenado.
O Comércio da Póvoa de Varzim dedicou este julgamento, de uma vez só,
quase uma página com o título de "Crime de Balasar".
A injustiça era muito evidente. Por trás das duas
atitudes opostas do Estrela e do Liberal face
ao julgamento deviam estar interesses políticos, eleiçoeiros, e também
económicos.
No decorrer do julgamento é assinalada, pela sua
respeitabilidade, uma testemunha de defesa do réu de nome Manuel Gonçalves
Xavier, de Vila Pouca. Era um lavrador de Vila Pouca, de 59 anos, e devia ser
irmão do avô da Beata Alexandrina.
Merecer ser aqui recordada uma notícia de Manuel
Cândido dos Santos, datada de 4 de Junho de 1919 e saída n’O Comércio
da Póvoa de Varzim:
Festividade –
Realiza-se nesta freguesia, nos próximos dias 16 e 19, a grande festa em honra
do Senhor da Cruz, que há 15 anos não se realiza (sic). É de
esperar muita concorrência atendendo à fama que alcançou noutro tempo.
Abrilhantará (sic) esta festa as afamadas bandas de música da
Póvoa de Varzim e de Vizela.
Programa:
Dia 18, ao meio dia, darão entrada no terreiro as duas bandas de música. À
noite terão lugar o importante arraial de fogo preso e do ar e deslumbrante
iluminação. Dia 19, às 10 horas, missa cantada e sermão por um distinto orador.
Às 16 horas, sairá a majestosa procissão com andores, anjinhos, coros de anjos,
etc.
A informação contida no primeiro parágrafo é que nos
interessa: desde 1903 a 1919, não houve festa: o pároco cortou pela raiz um mal
que vinha de longe e não era só de incidência local: era vulgar as romarias
terminarem em zaragata.
Na imagem, fragmento da página do Estrela Povoense que trata o julgamento da morte do ex-regedor de Balasar.
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