terça-feira, 6 de novembro de 2012

O ex-regedor morto à paulada


O P.e Leopoldino recorda este lamentável e determinante episódio ocorrido no ano anterior ao nascimento da Beata Alexandrina:

No ano de 1903, a desordem (na festa do Senhor da Cruz) foi tão prolongada que, ao romper da aurora, estando o capelão da Confraria a celebrar a missa, na capela, pediu o mesmo, que era o Rev.do Dr. Baltasar João Furtado (Azenha)[1], de Gondifelos, ao ex-regedor Joaquim da Costa Oliveira, homem velho e sensato, para ir ao terreiro acabar com o barulho. Este, porém, em tão má hora o fez que foi morto com uma paulada na cabeça.

Joaquim da Costa Oliveira era um jornaleiro do Casal e tinha 63 anos.
O julgamento do seu assassínio fez correr muita tinta na imprensa poveira.
Estrela Povoense foi o que mais espaço lhe dedicou. Da primeira vez, em 15 de Maio de 1904, foi quase uma página completa, em letra miudinha, sob o título: “Audiências Gerais, Julgamento importante, o Caso de Balasar”. Regista as conversas trocadas em duas sessões do julgamento entre o juiz e os advogados, por um lado, e as testemunhas, por outro. Na edição de 22, faz-se o mesmo para a sessão de conclusão. É quase meia página com o título de “Ainda o Caso de Balasar”.
O julgamento pareceu uma completa farsa: as testemunhas, que antes acusavam o réu - Florentino Ferreira de Macedo Faria Gajo, de Gueral, de 22 anos -, em tribunal, ilibaram-no. O juiz bem tentou mostrar-lhes a incongruência em que se envolviam, mas elas, que aparentemente tinham sido bem preparadas, mantiveram-se firmes. E o réu foi absolvido.
“E assim terminou essa tragédia em que se vê morrer assassinado um homem em pleno dia, cercado de centenas de pessoas, sem que alguém pudesse descobrir o assassino!”, lamenta o jornal. E mais adiante: “Infelizmente parece que uma freguesia inteira era cúmplice nessa morte, tais foram os meios que se empregaram para escurecer a verdade”.
O Liberal, no dia 15 de Maio, também dedicou mais de meia página ao caso, intitulando-a “Julgamento importante (o crime de Balasar)”, mostrando-se mais favorável ao réu. No dia 29, insurgiu-se contra o Estrela Povoense: se levantava suspeitas sobre o comportamento das testemunhas, devia prová-las. O Estrela lembrou então o que se tinha passado noutros julgamentos em que o réu era pobre e foi condenado.
O Comércio da Póvoa de Varzim dedicou  este julgamento, de uma vez só, quase uma página com o título de "Crime de Balasar".
A injustiça era muito evidente. Por trás das duas atitudes opostas do Estrela e do Liberal face ao julgamento deviam estar interesses políticos, eleiçoeiros, e também económicos.
No decorrer do julgamento é assinalada, pela sua respeitabilidade, uma testemunha de defesa do réu de nome Manuel Gonçalves Xavier, de Vila Pouca. Era um lavrador de Vila Pouca, de 59 anos, e devia ser irmão do avô da Beata Alexandrina.

Merecer ser aqui recordada uma notícia de Manuel Cândido dos Santos, datada de 4 de Junho de 1919 e saída n’O Comércio da Póvoa de Varzim:

Festividade – Realiza-se nesta freguesia, nos próximos dias 16 e 19, a grande festa em honra do Senhor da Cruz, que há 15 anos não se realiza (sic). É de esperar muita concorrência atendendo à fama que alcançou noutro tempo. Abrilhantará (sic) esta festa as afamadas bandas de música da Póvoa de Varzim e de Vizela.
Programa: Dia 18, ao meio dia, darão entrada no terreiro as duas bandas de música. À noite terão lugar o importante arraial de fogo preso e do ar e deslumbrante iluminação. Dia 19, às 10 horas, missa cantada e sermão por um distinto orador. Às 16 horas, sairá a majestosa procissão com andores, anjinhos, coros de anjos, etc.

A informação contida no primeiro parágrafo é que nos interessa: desde 1903 a 1919, não houve festa: o pároco cortou pela raiz um mal que vinha de longe e não era só de incidência local: era vulgar as romarias terminarem em zaragata.

Na imagem, fragmento da página do Estrela Povoense que trata o julgamento da morte do ex-regedor de Balasar.



[1] Este sacerdote era bacharel em Teologia.

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